AMOR DE SETANEJO (PEÇA TEATRAL)
I
Venho do sul do país
Mas eu sou um nordestino
Sai com medo da seca
Quando ainda era menino
Hoje volto a minha terra
Parecendo um peregrino.
II
Voltei pobre e sem dinheiro
Quase nu e é no chão
Não suportei a saudade
Que senti do meu sertão
Dos amores que deixei
Guardados no coração.
III
Bom dia minha senhora
Eu não venho do além
Viajei pelo Nordeste
A cavalo e de trem
Diga a mim se tem amor
Dona moça se tu tem.
IV
Se tenho não vai importar
Eu quero é gente da gente
Gente de nosso lugar
E gente inteligente
E que queira se casar
Gente que não seja doente.
V
Escute minha senhora
Eu sou um homem de bem
Me responda por favor
Se paulista aqui tem
E também se a senhora
Deve conhecer alguém.
VI
Aqui chega um paulista
Que chia no seu falar
Esqueceu que foi daqui
Do sertão de carcará
Não se lembra dos costumes
Que também comeu preá.
VII
Também se tem gente besta
Que não quer ser sertanejo
Que não quer nossos costumes
Nem sente mais o desejo
De trabalhar no roçado
Na cabocla dá um beijo.
VIII
Chega uma gente fina
Foi daqui e vem de lá
Desconhece o que é seu
Não sabe mais trabalhar
Um tal de fazer churrasco
De beber e farrear.
IX
A senhora é nordestina
Por isso lhe dou valor
Vou agora perguntar
Me responda por favor
Se acaso a senhora
Aceita o meu amor.
X
Só quero gente da gente
Que nunca foi para lá
Do Rio Grande do Norte
Paraíba ou Ceará
Gente que tenha coragem
De na vida trabalhar.
XI
Eu também tenho amor
Ao Nordeste sei amar
A mais bela caipirinha
Que aqui eu encontrar
Amo e dou meu coração
E pretendo me casar.
XII
O amor de nordestino
É puro tal qual a fome
Que corre no intestino
De quem preserva o nome
De um animal no campo
Que só pasta o que come.
XIII
Eu também tenho amor
E eu posso te provar
Meu amor é muito puro
É aqui deste lugar
Um amor de sertanejo
Pra senhora disfrutar.
XIV
Seu moço só quero amor
Sendo do sangue da gente
Gente que queira lutar
Enfrentar touro valente
Não olhe rabo de saia
E nem seja impertinente.
XV
Valentia não somente
Existe pra este lado
Existe tanto problema
Tanto povo injustiçado
Com esta seca tremenda
Todo mundo é castigado.
XVI
São muitas as injustiças
Eu não quero nem citar
Se aqui eu for dizer
Não sei quando vou parar
Ta sujeito a polícia
Vim aqui e me levar.
XVII
Conheça minha senhora
Que sou um bom companheiro
Pra amar eu não preciso
De na vida ter dinheiro
Pois eu sou um nordestino
Do Nordeste brasileiro.
XVIII
Se você quer meu amor
Posso bem te aceitar
Eu não sou bem da elite
Em motel não posso entrar
Se pretende ser feliz
Fique pa gente casar.
XIX
Garanto minha senhora
Que eu sou deste sertão
Pode aceitar meu amor
E também meu coração
Casaremos por aqui
Fazemos a plantação.
XX
Eu espero que você
Seja aqui deste lugar
Não tenha muita preguiça
Queira conscientizar
Pra também lutar comigo
Contra que quer explorar.
XXI
Entendo todo problema
Com a minha experiência
Lhe sustento trabalhando
Com minha grande potência
Com amor eu combater
Um pouco da violência.
XXII
Seu moço vou lhe contar
Vivo só para lugar
Trabalho o dia todo
O que ganho é de chorar
A minha grande despesa
Essa sim é de lascar.
XXIII
Agora vou perguntar
Sobre nossa vizinhança
Sobre a fome no Nordeste
E se jegue enche pança
Se todo o sertanejo
Da vida tem esperança.
XXIV
Vejo fome no Nordeste
E não posso me calar
Vejo jegue sem ter pasto
E vizinho sem jantar
Toda terra nordestina
Já ta perto de torrar.
Caraúbas-RN, 05.03.1983
Ilton Gurgel, poeta; Vera Maia Teatróloga.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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