quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

É MELHOR SER HOMEM LISO DO QUE CORNO COM DINHEIRO.




I

Pessoal a minha vida

Não sei como vai ficar

Ao senhor eu vou contar

Uma história escondida

Conheci a Margarida

Mulher forte encantadora

Ela era uma doutora

Parecia ser legal

Veja como passei mal

Casando com a sedutora.

II

Ela aqui veio morar

No nosso interior

A procura de amor

E eu doido pra casar

Pra ela pude olhar

Na manhã dum certo dia

Ela eu não conhecia

Por azar fiquei doente

Com a doença presente

Quase entro numa fria.

III

Na consulta perguntou

O que é que eu sentia

Com vergonha respondia

Que sentia uma dor

Febre, frio e calor...

Fiqeui desorientado

Por que ela do meu lado

Não parava de olhar

Já queria paquerar

Este pobre amatutado.

IV

Um papel ela pegou

Escreveu uma receita

Com uma letra estreita

Meu endereço pegou

Há também me alisou

E tanto me apalpar

Depois foi me visitar

Perguntou muito ligeiro

Se eu era um solteiro

E queria me casar.

V

Respondi quase biruto

- Dona sou um solteirão

Vivo aqui nesse Sertão

Cuidado de bicho bruto

Sou caipira e matuto

Não sei ler nem escrever

A senhora vou dizer

Que só sei mesmo amar

As doutoras que chegar

E pro meu lado correr.

VI

Ela ficou tão faceira

E passou batom na boca

Parecia uma cabocla

Quando vem andar na feira

E falou duma maneira

Toda espetacular

Me chamou pra namorar

Disse na ocasião

- Esse cabra é um machão

Com ele vou me casar.

VII

No dia do casamento

Nós saímos da Igreja

Em casa tomei cerveja

Festejando o sacramento

Senti naquele momento

No meu corpo um arrepio

De repente senti frio

Quando ouvi lá do retorno

“Esse pode não ser corno

Mas parece no perfio”.

VIII

Quando se passou um mês

Da gente ter se casado

Ela disse: -Meu amado

Tu agora é um burguês

Eu com minha timidez

Quando a gente desconfia

Lembrei que pai disse um dia

Com o seu jeitão sisudo

- Nunca vi ter tão chifrudo

Como tem na burguesia.



IX

Daquilo eu me lembrei

Fiquei de orelha em pé

Quase que perdi a fé

Da mulher que eu amei

Mesmo assim eu caminhei

Eu e ela bem casado

Mas fiquei em um estado

Que só fiz me lastimar

Ao povo não vou contar

Por que fico envergonhado.

X

A mulher era faceira

Comprou tanta novidade

Se saia pra cidade

Chegava com geladeira

Com carne de dianteira

Com sofá e com fogão

Com som e televisão

Eu dizia é bom ser rico

Mas ser corno nem um tico

Por que dói no coração.

XI

Saia pra bebedeira

Também pra reunião

Ia para diversão

E eu só sem companheira

Já lesado na maneira

Dos homens daquele jeito

Toda noite era um sujeito

Que na minha casa ia

Com minha mulher saia

Eu ficava sem respeito.

XII

Um dia eu resolvi

A doutora reclamar

Ela jurou me largar

Grande alívio senti

Uma coisa decidi

Disse logo no roteiro

Doutora seu companheiro

Lhe diz o que é preciso

“É melhor ser homem liso

Do que corno com dinheiro”.

Caraúbas-RN, 10.03.1983.

Ilton Gurgel, poeta (poesia de época)



















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