segunda-feira, 22 de junho de 2009

MINHA MÃE ACALENTAVA, QUANDO MEU PAI ME BATIA

I
Um tempo de esperança
Para toda criatura
Eu fazia travessura
No meu tempo de criança
Enquanto meu pai descansa
Pela casa eu corria
Fazendo estripulia
E depois eu apanhava
Minha mãe acalentava
Quando meu pai me batia.
II
Uma frase no sertão
Ela é muito usada
De lá é originada
Dita por qualquer cristão
Eu fazia danação
E traquinagem seguia
Apanhava e doía
Marca no corpo ficava
Minha mãe acalentava
Quando meu pai me batia.
III
É que todo o menino
Não tem como escapar
Na hora que vai brincar
Todo ele é traquino
De danado a malsino
O adulto chamaria
Combater a euforia
Quando a gente arengava
Minha mãe acalentava
Quando meu pai me batia.
IV
Um menino maluvido
Que não vale um vintém
Não atende a ninguém
Nem ao pai dá o ouvido
Só quando fica ferido
E muita dor causaria
Minha mão me defendia
Com carinho consolava
Minha mãe acalentava
Quando meu pai me batia.
V
A mãe tem mais paciência
Pelo seu jeito materno
Instinto que é eterno
E é de muita freqüência
O pai com a evidência
Não usa da calmaria
Mas a mãe me acudia
Às vezes eu escapava
Minha mãe acalentava
Quando meu pai me batia.
VI
Eu tinha que me cuidar
Sempre fui astucioso
Fingia em ser dengoso
Para o pai acreditar
Isso não ia colar
Quando dava eu corria
A minha mãe entrevia
Mesmo assim ele açoitava
Minha mãe acalentava
Quando meu pai me batia.

Brasília-DF, 22.06.2009
Ilton Gurgel, poeta.

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