quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

UM CAIPIRA NA CAPITAL.




I

Morei sempre no Sertão

Desde quando eu nasci

Pouca coisa aprendi

Pela minha região

Tomei uma decisão

De um tanto radical

Ir morar na capital

No meio de tanta gente

Mas vejam daqui pra frente

Que na vida me dei mal.

II

Vou contar o meu sofrer

Sem ter nenhuma mentira

Como é que um caipira

Que sem ler ou escrever

Ver o dia amanhecer

E olhar para o mundo

Em um sonho bem profundo

Pensamento em me mudar

Da hora de viajar

Sonhava todo segundo.

III

Na hora de viajar

Despedi-me do Sertão

Entre numa condução

Deu vontade de chorar

E já perto de chegar

Eu vi que não dava certo

Senti quando estava perto

Que ia me arrepender

E o carro a correr

Chorei no momento inserto.

IV

Fiquei muito atordoado

Não conhecia ninguém

Era aquele vai e vem

Que me deixou espantado

Seu moço cheguei cansado

Um quarto fui alugar

Para poder descansar

Daquela longa viagem

Guardei a minha bagagem

E fiquei a repousar.



V

Eu dormi o dia inteiro

Acordei apavorado

Um ladrão tinha levado

Minha roupa e meu dinheiro

Corri logo bem ligeiro

Para a delegacia

Pois a queixa prestaria

Falei pra o delegado

Eu tinha sido roubado

Se ele me socorria.

VI

Ele bem admirado

Naquele seu gabinete

Que não era um palacete

Por estar desarrumado

Com papel pra todo lado

Quando vi desanimei

Perguntou do que não sei

Registrou a ocorrência

Eu quase sem paciência

Muito tempo esperei.

VII

Foi um ato infeliz

E um pouco indecente

No meio daquela gente

Que empina o nariz

Não perdi minha raiz

Nem meu modo de viver

Uma moça ao saber

Perguntou o que eu tinha

Contei tudo pra mocinha

Da qual veio entender.

VIII

Na mesma delegacia

Da moça acompanhado

Gritou alto o Delegado

-Venha cá cabo do dia

Eu estou na correria

E aqui vem um matuto

Que parece ser biruto

Tudo dele foi levado

Resolva desse lesado

Que parece bicho bruto.



IX

A mocinha respondeu

-Por favor ajude a ele

Eu sou conhecida dele

Ele é amigo meu

Por sorte que não morreu

Ele é um pobre coitado

Seu dinheiro foi roubado

Ele veio lhe dizer

Do que veio acontecer

Ele não é o culpado.

X

E eu não falei mais nada

A moça falou por mim

Eu saí meio assim

E sentei numa calçada

A rua movimentada

Eu sem ter o que comer

Eu com meu pouco saber

Quase que eu passei mal

Por que lá na capital

Não é lugar de viver.

XI

Eu fiquei desempregado

Não tinha nenhum trabalho

Sem estudo o atrapalho

Na rua eu fui jogado

Fome, frio e humilhado...

Num papelão eu dormia

Devido burocracia

Lá eu não pude ficar

Então tinha que voltar

Pra de onde eu saia.

XII

Lá não tive conhecido

E ninguém me acolheu

Pois quem olhava pra eu

Era com olhar fingido

Eu só andava perdido

Sem saber pra onde ia

E em fim chegou o dia

Alegrei meu coração

Pois voltei pro meu Sertão

Onde tenho moradia.

Brasília-DF, 07.02.2013.

Ilton Gurgel, poeta.







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