quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A FOME DO SERTANEJO (poesia de época, 1983)

I
Do que falo é gritante
É de chamar atenção
Um caso de emergência
Precisa de solução
Não sei como sobrevive
A fome no meu sertão.
II
Vejo em toda região
Um terrível sofrimento
Adulto passando fome
O filho sem alimento
Também a mercadoria
Todo dia tem aumento.
III
Ninguém vê o sofrimento
Do nosso trabalhador
Trabalha feito um burro
Com suor e com calor
Queimado por um sol quente
Por cima sem ter valor.
IV
Tenha pena meu Senhor
Do sofrer do camponês
Que vive abandonado
Trabalhando sem ter vez
E ainda o que colhe
É pra mesa do burguês.
V
Nós vemos é todo mês
Esta longa estiagem
Que castiga o sertão
Nisso não vemos vantagem
Morrendo a produção
Parecendo sabotagem.
VI
O homem com a coragem
Vai embora pra Natal
Para escapar da seca
Vai pra outra capital
Dando assim uma origem
A um êxodo rural.

VII
Multa gente passa mal
Filho morre esquecido
Pelo mundo sai pedindo
E o pai vira mendigo
Pedindo pr anão morrer
Entre o povo sofrido.
VIII
Parece tempo perdido
Pra quem mora no sertão
Porque passa muita fome
Quando acaba a produção
Come até calango e jia
Cobra e camaleão.
IX
Falta arroz e falta pão
Falta leite e margarina
Acabou-se o feijão
Nessa terra nordestina
Baixa o produto agrícola
E sobe a gasolina.
X
A situação afina
Para todo nordestino
Luta para não morrer
Fica tipo peregrino
Morre velho abandonado
E também morre menino.
XI
O rico é tão sovino
Que não dá para ninguém
O pobre anda a pé
Ele de carro ou trem
E não dá nem um pão duro
Pois muita comida tem.
XII
Termino dizendo amém
Com todo o meu ensejo
Falei sobre um assunto
Dele ninguém tem desejo
É muito preocupante
A fome do sertanejo.

Caraúbas-RN, 06.03.1983
Ilton Gurgel, poeta.

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